sábado, 15 de setembro de 2012

Inviso

Num ataque enfurecido e inesperado ele decidiu que recolheria todas as estrelas naquela noite, e fez mesmo. Prometeu chuva e tempestades. Seus invisíveis músculos estavam terrivelmente cansados, do calcanhar de aquiles até o coração. Nada nunca importa para ele, nem a mínima. Assim reinventou o mundo de todas as cores, fazendo questão de deixar pra trás tudo o que não queria. Até foi numa dessas que deixou pra trás a alma, mas levou consigo outras assombrações. Com frio nos ossos e no âmago. Depois de as peles de se trocarem, preparou a mesa do café para dois. Ajeitou no chão os jornais que falavam sobre um mundo diferente, com fotos desbotadas, entre ele e a poeira, e chamou de cama. Uma cama para uma pele com solidão, suor e cicatrizes. E já deitado ele lembrava de alguma história e de como esses papéis que um dia interpretou rasgam facilmente, enquanto olhava para a linha do horizonte de um ombro pálido, distante, e indiferente, e com as mãos ao redor da chama de uma vela tratou de aquecer seu sangue, rezando pra que ninguém ali perto respirasse muito forte.

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