sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Enquanto o corpo está no porão

"o mais engraçado sobre desejar que tudo se foda, é que isso só é possível porque cada coisa realmente tem um motivo para que ela simplesmente se foda".

sábado, 15 de setembro de 2012

Inviso

Num ataque enfurecido e inesperado ele decidiu que recolheria todas as estrelas naquela noite, e fez mesmo. Prometeu chuva e tempestades. Seus invisíveis músculos estavam terrivelmente cansados, do calcanhar de aquiles até o coração. Nada nunca importa para ele, nem a mínima. Assim reinventou o mundo de todas as cores, fazendo questão de deixar pra trás tudo o que não queria. Até foi numa dessas que deixou pra trás a alma, mas levou consigo outras assombrações. Com frio nos ossos e no âmago. Depois de as peles de se trocarem, preparou a mesa do café para dois. Ajeitou no chão os jornais que falavam sobre um mundo diferente, com fotos desbotadas, entre ele e a poeira, e chamou de cama. Uma cama para uma pele com solidão, suor e cicatrizes. E já deitado ele lembrava de alguma história e de como esses papéis que um dia interpretou rasgam facilmente, enquanto olhava para a linha do horizonte de um ombro pálido, distante, e indiferente, e com as mãos ao redor da chama de uma vela tratou de aquecer seu sangue, rezando pra que ninguém ali perto respirasse muito forte.

domingo, 2 de setembro de 2012

Desmerecido descanso

Não me lembro, não me encontro
Nunca estou pronto,
Nem de perto, nem por dentro

Eu tento, e como eu tento
de tanto eu tremo
Mas estou sempre cansado,
E de cara amassada

E como cansa
Inventar um mundo por dia
Sem causa e sem consequência

Ando tenso, de tanto que tento
E ando meio sem tempo pra isso
Ou penso ou invento um sorriso
E pensar também cansa

Vejo tudo torto
E não suporto
É pesado todo esse descaso.
Eu tremo, quase morto,
Sob o peito, não lembro, preso,
Mas o ritmo deseja e apressa:
O desmerecido descanso

sábado, 1 de setembro de 2012

Voz de entrelinhas

Ora, pensei que chegaria ontem
Mas hoje estou quase chegando
Até que as horas se acinzentem
Quando os peitos estiverem rasgando

Não dá pra mentir.
Pra chegar, às vezes, 
É preciso nunca partir.
Ficar. Sem os talvezes.

Nem um cá e nem um lá
Nascido de nenhum ventre
Sou um vento, o homem sem lar,
À noite durmo entre os sempres