quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Conto de Fadas

Será uma certa magia
Esse tempo que te escondia?
Ou será que naquele dia incerto
As estrelas chegaram mais perto?
Causando um estranho universo
Onde as cores sorriam
E pelos reinos de portões abertos
Os sonhos corriam
Ardendo, e escondendo
Os segredos que nem as fadas sabiam
Mas que fitando teus olhos adentro
Não resistiam, e se desfaziam
Era o desejo,
Era do coração, o centro!
Ou seria um conto isso que vejo?
Não como qualquer conto que conheço,
Daqueles que sempre terminam com um beijo
Mas sim um daqueles em que o beijo...
É apenas um começo.

sábado, 16 de outubro de 2010

Às Vezes Vou à Praça

Às vezes demora
Anos pra te encontrar
Horas sem se o sol se mostrar

Às vezes demora
Meses pra passar
Simplesmente uma hora

Às vezes demora
Ele não vem
Ela chora

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Destino

É o que dizem sobre o destino:
Cego, acorrentado e faminto;
Mas é o mais livre, mesmo contido,
Pois sabe do princípio, meio e fim.

 (a arte não é minha, não sei referenciar o autor ao certo, pois participaram da obra - Sandman, Fim dos Mundos - vários artistas.)

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Fora do alcance.

Quando o aquilo que se crê ser o ponto derradeiro de um caminho a ser traçado, torna-se apenas mais uma idéia não mais que fantasiosa, tudo o que concerne a isso foge à regra, nada é exato, a tolerância não mais que uma fraqueza representa, e a lâmina da ignorância se torna cada vez mais afiada.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Uma Carta Que Voltou

Ainda assim não pejo, e confesso:
és meu tímido arrebate, meu doce assalto,
um tanto dolorido, mas ainda é sorriso.

Saí. A porta ficou aberta.
Escureceu. E fechei os olhos.
Caí. A mente é torta e aperta,
Amorteceu. E achei os sonhos.

E eu quase sei...
Que aos mortos se sepultam!
Mas antes se velam
Desculpe-me, portanto,
se reviro cinzas e ossadas
Mas o faço, pois ainda velo

domingo, 22 de agosto de 2010

Câncer

É a doença, a criança, a matança
Mas é a cria que não espera
Pois dói
E não supera
É a sequela
É a vela
Gotejando
Das mãos, as palmas
Cortejando
Da morte, a alma

É o beijo!
É da blusa, o feixo
É da lua a aura
Lá tão alta
Que se esmera
Que se esbalda
Mas não espera,
Não acalma

Já foi lama
Já foi vento,
Agora é trama
E eu que tremo
Eu que temo...
É esse tumor
É o amor.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Naquele Entardecer



Foi quando pensei
No quanto desejei
Voltar no tempo,
E moldar o vento,
Para matar o coração
E fazer um furacão...

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Continuidade indeterminada

Se há um critério que possa reger nossas vidas, certamente não se trata da bondade, afinal, por muitas ocasiões em que nos ocorre agir com tal constância de benevolência (consequência de uma razão de equidade e a esperança do bem estar próprio produzido por tal ação que sugere consideração recíproca de satisfação), não obtemos o resultado almejado. Portanto, condescendência seria o termo um pouco mais apropriado para explicar o assentimento dessa sucessão de fatos, tempo, sofrimento e inúmeros outros fatores concomitantes.

Mas o que torna necessária uma existência fadada de subordinações muitas vezes ininteligíveis, que na incerteza frequentemente tem por finalidade fracasso, decepção e conformismo? A intensidade da sensação do proveito posterior, quando premeditada, tanto pode tornar insípida a conquista como pode agravar a significação da desilusão, algo que, dito de passagem, nada mais é que uma verdade que cada indivíduo conhece instantâneamente no decorrer de uma situação semelhante ou a toma por intuição.

Assim, é verossímil dizer que nossos maiores desejos e vontades se fundam em convicções, e que se quando concebidas a priori tem uma ínfima possibilidade de suceder em conformidade com o plano, então baseamo-nos em uma verdade corrompida, dúbia, que ulteriormente pode ser classificada como mentira. O problema é que se o objetivo a ser traçado torna-se primordial, dissuadir-se de uma esperança vã é quase impossível, mesmo que durante o decurso de tal engendração o indivíduo se convença de que não alcançará o que pretende.

A partir deste momento a superstição toma a consciência do ser, que em estado de desespero, torna-se suscetível a acreditar em quaisquer influências exteriores, as quais geralmente são pressupostas pelo próprio indivíduo. Sem dúvida, submeter-se à idéia de que nossa existência é uma sucessão contínua de decepções que causamos ao tomar uma decisão errônea, que acarreta a todas nossas condições pusilânimes contemporâneas, é caminhar rumo à resigna, e desta maneira um suicídio torna-se muito justificável. 

Todavia, somos capazes de esquecer totalmente nosso estado quando nos deparamos com a situação de outro ser que sob condições desfavoráveis de subsistência, desprovido de outra vontade que não seja alimentar-se ou ter um agasalho para não morrer de frio ao dormir pelas ruas; ou mesmo quando nossa visão nos incita a observar a dificuldade com que lida alguém privado de movimentos, orgãos, etc.; nesses instantes sentimos que aspiramos todas as dores do mundo, tudo é tão decadente e injusto, e por conseguinte comparamos as situações, estabelecemos lugares exatos de cada qual de acordo com o perfil que se pode presumir.

Naturalmente a conclusão é de que somos infinitamente mais beneficiados que o infeliz ao qual determinamos uma relação; mas basta apenas que o ensejo seja superado e esquecido para que a abstração individual torne a acontecer e trazer de volta a aflição das impossibilidades, embora sempre com um aspecto novo seguido de promessas com aparências tentadoras que sugerem ousadia.  



sábado, 24 de julho de 2010

Esperar É Uma Jaula

Os dias se prolongam e se debatem
As proles definham, as flores desistem
Enquanto segue a vida, o combate,
E os que seguem vivendo hesitam e assistem.

A primeira nuvem que chega
É como a primavera que renasce,
Mas é com a chuva que enche
Olhos tristes, lágrimas e resinas

E vem o vento, vem de longe
Sussurrando a pressa da morte
Equilibrando a calma do monge
No emaranhado de razão e sorte.

Esperar é exatamente assim!
Acorrentar uma besta em frenesi...
Esse coração que pulsa em mim
Que tem a animalesca fome de ti...

quarta-feira, 7 de julho de 2010

A saudade é uma errada donzela:
Vai ao baile sem ser convidada.
No entanto, por ser tão bela,
Por ninguém pode ser retirada...

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Dois Caminhos Para Lugar Algum

É um longo caminho a percorrer nessa vida. Abster-me do passado. Cada dia um novo passo para o fim.
Mas o que faço? Se o que quero mesmo é dar o primeiro passo para trás... A nostalgia toma conta de mim.

terça-feira, 11 de maio de 2010

O Olhar Labiríntico

Um majestoso saber ilógico
Tomou-me ainda adormecido,
E embebedou meus propósitos,
Purificando o apodrecido
Das realidades mais sólidas.

Mesmo por atalhos misteriosos,
Eu soube aonde me levaria:
Aos palácios mais gloriosos,
Em que certa força reinaria.

E mais que sábio, era mágico
Esse teu encanto estático.
Amornando meu coração
Com tamanha exatidão,
Sendo apenas mais prático
Aos ventos do verão.

E agora me deparo perdido
Nestes vastos, lindos labirintos.
Indagando-me onde tem escondido
A doçura dos lábios tintos...

segunda-feira, 5 de abril de 2010

O Incontestável

Caminham em horas incertas
A desesperança e o destino entrelaçados
Como a mente que não discerne
Como a sede dos bêbados insaciados

Cegos como qualquer outro verme
Farejam a cólera e a insensatez
Devorando também os meus versos
Procurando meu temor com avidez

Mas essa tal desesperança, observe
É filha de um impuro ato fornicado
Na suja lama e pus de feridas certas
Entre a fraqueza e o pessimismo em pecado

Mas desde logo o destino se desfaz
Da incensurável e prostituta incerteza
E à beira de um beijo na face
Ouve o sussurro da profunda sutileza:

"Abre os olhos e segura firme minha mão
Pois esta leva até mesmo o insustentável
Por estreitas sendas do coração
Até o reino do imponderável"

sexta-feira, 26 de março de 2010

A Tocha De Hecate

Acompanhava-me entre sombras trêmulas
Um fantasma que dizia:
“Certo coração descansava neste túmulo
Colhera doces frutos a mais de dúzias
Cantava coloridos sonhos e fábulas
Até conhecer uma dama que conduzia
E hasteava suas danças às flâmulas...
Mas depois o coração não mais sorria.”

Curioso eu me debatia...
Aos portões parei, com medo
Se eu cruzasse, o que aconteceria?
Eu não pretendia morrer tão cedo

Mas a graça acaricia
Intimida com uma espada torta
Esbofeteia com a mão macia
Aquele que não se importa

Andei dois passos traiçoeiros
Pude voar no terceiro
Pois avistei a beleza
De uma oitava grandeza
Duas estrelas brilhando
Num negro céu de outono
E um par de lábios sorrindo
Envoltos em traços patronos

A mão eu estendi
Uma dança aceitou
Quando uma palavra recitou
Uma música eu entendi
Então ao fantasma agradeci

Os olhos de archote eu fitei
E às chamas me lancei

Assim minha dúvida logo sanei
Quando um beijo a pedi...
E como fantasma acompanharei
A doce morte que mereci

sábado, 20 de março de 2010

Ego sum vermis, et non homo

EGO SUM

A ignorância,
O preconceito,
A superstição,
A tradição,
A hipocrisia,
O dogma,
O fanatismo,
O vício,
A preguiça,
A futilidade,
O orgulho,
A mentira,
O ciúme,
A intemperança,
O desrespeito,
A discórdia,
A crueldade,
A dominação
E os privilégios.

D-Luan-H


Eis uma velharia inacabada, uma escultura de carne e osso, um espelho para todos, e um autorretato para mim. O que é humano!

"Ego autem sum vermis et non homo obprobrium hominum et abiectio plebis
Omnes videntes me deriserunt me locuti sunt labiis moverunt caput"

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Digno de imolação.

Admitir que a divindade à qual os cristãos estão subordinados é boa, benévola, humilde, compassiva, nem sempre foi tão simples se inferida através das intercessões em fatalidades às quais sua mais próxima criação - aquela que procura demonstrar a superioridade racional subjugando os indivíduos de sua coletividade, estabelecendo padrões de conduta de fácil assimilação também aos menos favorecidos intelectualmente, e por inúmeras vezes proporcionando desditas a si mesmos; pois criaram uma espécie de vaidade que impele à frivolidade. Portanto, sua finalidade é a ostentação mediante o conformismo de sua autodestruição refratada pelos intentos fantoches - tais como a punição conferida aos judeus, que após tantos anos sofrendo as condições de um suposto deserto foram capazes de erigir um tabernáculo com colunas de bronze e capitéis de prata maciça ou mesmo um bezerro de ouro (que não é outra coisa senão o Deus Ápis) produzido por Aarão irmão de Moisés em tão somente um dia!; o monumento seria adorado aos pés das mesmas montanhas em que Deus falava a Moisés.

Pois bem, se considerarmos que Deus não reprovou a atitude deste seu discípulo mais próximo, que ao vê-los adorar aquela outra divindade ordenou que decaptassem vinte e três mil homens, tampouco o massacre de vinte e quatro mil israelitas, igualmente pela ordem mosaica para expiar o pecado cometido por um só que foi surpreendido com uma madianita. Talvez também fosse vontade divina a represália de Eliseu ao fazer aparecer ursos para devorar quarenta e dois meninos que o chamaram de careca ; logo, se estas atitudes e humores destes homens são tão arbitrárias quanto as de seu Deus, não é possível declarar com justeza que havia justiça para com os pecados, mais verossímil seria a proposição de que fossem oferendas ao Demônio, do qual a participação nem é citada. Entretanto, se nos cabe a ideia de que esta soberana entidade Deus, seja onipotente, onipresente e onisciente, por consequência é irrevogável a asserção de um destino por ele premeditado, algo que seria oposto ao pretenso livre-arbítrio e nos eximiria dos conceitos de pecado, culpa, dever, atribuindo-os juntamente de seu estado de miséria ao próprio criador.

Assim, torna-se aceitável a proposta de que Lúcifer, Adão, Cain, Judas e inúmeros outros perpetradores estavam plenamente isentos de qualquer culpa, embora cada um deles tenha sido julgado por Deus da mesma maneira que uma que criança apanha insetos com a maior inocência, corta suas patas, arranca-lhe a cabeça, talvez ainda o despedace em minúsculas partes, então ateia-lhe fogo e rompe em gargalhadas. Porém, se Deus teve afinal compaixão ou magnanimidade para com alguém, este alguém trata-se de ninguém mais que o Diabo, pois muito sangue jorrou, as mortes foram incontáveis e frequentemente as remessas ceifadas eram grandes ou requeriam um grande espetáculo.

Sem dúvida o maior deles foi o suplício do indivíduo que pronunciou-se como a divindade encarnada, o que por intervenção do Espírito Santo recrutou pregadores céticos consciencioso quanto a suas índoles e a consequência disso. Sucumbiu às torturas e foi crucificado, ao que parece sofreu como qualquer outro homem e foi exposto como miserável, escravo; ou ainda com valor similar ao dos ladrões que o cercavam punidos igualmente. Sangrou, lamentou e desesperou-se no instante derradeiro de sua morte questionando o abandono da graça de seu pai.

A hipótese de uma divindade subordinada a Cristo por não possuir a mesma substância do pai (difundida pelo padre Ário em Alexandria, considerada a maior heresia dos inícios do cristianismo), não compensaria a evidência de que novamente a vontade divina havia extinguido qualquer compaixão que o próprio messias pregava; comprazendo ao Demônio que provavelmente aplaudiu regozijando-se com tal tragédia: Deus sacrficando-se, pecando para nos livrar dos pecados, tornando as leis mosaicas uma grande piada.

Cada vez mais semelhantes a nossas sentenças e deliberações tornam-se as deste Deus e reciprocamente. Se pelo espírito a ele somos unidos, embora comportemo-nos cada qual de uma forma e frequentemente desprovidos de qualquer moralidade, em tantas ocasiões tão malévolos, negativos quanto a caracterização que qualquer pessoa pode deduzir de alguma imagem oposta à da divindade soberana, então seria preferível crer na capacidade de cada indivíduo que estando ou não suscitado a fazer o que faz pela divindade pode produzir tantas generosidades quanto dissabores que a nós são muito reais e palpáveis.

"Mas este é tão generoso, humilde, sincero e sempre tem como retribuição o desprezo, a miséria; enquanto aquele outro obtém o que deseja com trapaças, velhacarias e de alguma maneira parece ser feliz e em conformidade com seu Deus." Atribuir ao ser supremo de sua crença apenas suas virtudes pode ser tão mais proveitoso que não é inaudita a proposição de inúmeros deuses com esse propósito. Por meio deste politeísmo acreditemos pois em nossas próprias virtudes abstraindo-as daqueles ídolos, tornando-nos pois semideuses (semi pelo fato da integridade ser atribuída através de qualquer capacidade metafísica que em nós só poderia ser interpretada como fantasia).